Eu estava cansado da capital. Muito barulho, muitas pessoas. E eu não aguentava mais meus vizinhos. Eu queria mudar de ares e principalmente de vida. Passei os piores momentos sentado no meu sofá, para refletir não sobre o mundo, mas o lugar ideal para se estabelecer. Imaginei-me vivendo em uma pequena aldeia no interior, mas, tendo crescido, já sabia que os espaços abertos não eram feitos para mim. Eu me via começando do zero na beira do mar, mas o vento e o grito das gaivotas sempre me davam nos nervos.
Em suma, eu procrastinei. Por isso me perguntei por muito tempo onde colocar essas malas que eu ainda não havia feito, até o dia em que caí sobre ela, por acaso. Uma cidade sem carro ou habitante, sem barulho ou movimento, tão calma como o campo, tão relaxante quanto o oceano, mas sem a natureza.
Hoje ando silenciosamente nestas ruas só para mim, onde só tenho que servir, onde tudo chega aos meus braços. No começo me fiz algumas perguntas: o que aconteceu aqui e o que havia acontecido com a população? Êxodo rural, desastre natural, cataclismo ecológico, não importa afinal. Com o tempo, aprendi a não amuar o prazer e a única coisa que me preocupa agora é quanto tempo vai durar. Eu mato o tempo, que realmente não passa por aqui, imaginando todas essas vidas passadas atrás de persianas fechadas, essas cortinas de ferro fechadas. Estou perdido em uma ilha deserta, exceto que não quero ser encontrado. Eu moro em uma cidade fantasma.
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